Adaptação rápida e flexibilidade: unicórnios brasileiros contam como reagiram à crise gerada pela pandemia

A queda de grandes empresas pela falta de inovação

Painel no Brazil at Silicon Valley contou com executivos da Gympass, do Nubank, do iFood e da Wildlife.

Adaptação rápida e flexibilidade: é com isso que os unicórnios brasileiros estão reagindo à crise gerada pela pandemia do coronavírus, segundo empresários que participaram de um painel na Brazil at Silicon Valley, nesta quarta-feira (6). Reveja a conversa no vídeo acima.

São chamadas de unicórnios as empresas que atingem US$ 1 bilhão em valor de mercado antes de abrirem seu capital, ou seja, sem vender ações em bolsa.

Em novembro do ano passado, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), o Brasil tinha 11 companhias classificadas como unicórnios.

O debate “Unicórnios Brasileiros: Caminhando para uma nova economia” contou com o fundador do Gympass, Cesar Carvalho; o fundador e CEO do Nubank, David Vélez; o CEO do iFood, Fabrício Bloisi; e o CEO e cofundador da Wildlife, Victor Lazarte. E foi mediado pelo cofundador e presidente da Stone, André Street.

Eles foram convidados da Brazil at Silicon Valley, conferência organizada por estudantes brasileiros das universidades de Stanford e Berkeley, na Califórnia. Por causa do coronavírus, a edição deste ano está sendo realizada de forma virtual.

Do susto ao recomeço

Os empresários contaram como reagiram à pandemia em negócios tão diferentes. Para Carvalho, do Gympass, serviço de assinatura de academias, inicialmente foi um susto.

Afinal, o serviço se baseava em aulas presenciais, mas, assim como o comércio, as academias tiveram de fechar as portas quando as medidas para prevenir a contaminação com o vírus começaram a ser decretadas. “Numa questão de semanas, tudo foi fechado”, lembrou.

A decisão foi levar o serviço à internet, e foi preciso começar basicamente do zero. “Nossas atividades não tinham nada virtual”, contou. “A aposta, do lado do ataque, a primeira delas foi apoiar todas academias para fazer as lives. Chamar os alunos para fazer o que faziam no local, (agora) no mundo virtual. Já temos mais de 100 mil pessoas usando esses produtos.”

Foi uma reação rápida, descreveu o fundador do Gympass. “Quatro semanas atrás não tinha nada virtual, mas fizemos um negócio super-rápido, para deixar tudo ativo”.

Delivery e games em alta

Quem também teve de acelerar e adaptar o negócio foi o iFood, com o aumento repentino da demanda pelo delivery com a adoção do isolamento social. Uma das principais demandas atuais são compras em supermercados, que antes eram bem menos procuradas, apontou Fabrício Bloisi.

“Já crescíamos muito, mas estamos crescendo mais rápido. Crescendo mais rápido em categorias novas, como mercado, pagamentos digitais. Muitos restaurantes que diziam que não queriam ir para o delivery foram, e descobriram que podem vender muito assim”, resumiu o CEO do iFood.

Bloisi explicou que decidiu mudar algumas das diretrizes do serviço: “Tiramos as metas de vendas, e isso virou em metas de saúde”.

E que também existe a preocupação de ajudar o setor de alimentação. “Queremos garantir que todo ecossistema de restaurantes continue funcionando”, afirmou.

Quem também viu crescimento durante a crise foi Victor Lazarte, da Wildlife. A empresa desenvolve games para mobile que podem ser jogados a qualquer momento. O modelo de negócios é baseado na venda de itens dentro dos jogos, que podem ser baixados de graça.

“Nesse último mês, o número de pessoas que fizeram download de jogos aumentou em 30%, e o número de usuários de nossa empresa cresceu por volta de 50%. Tem muito mais gente jogando, e as pessoas que jogam, jogam por mais tempo”, afirmou.

Experiência em crise

David Vélez, do Nubank, reconheceu que o setor de serviços financeiros enfrenta dificuldades. “Somos uma empresa que tem um pé na economia real e um pé na economia digital; nós estamos no meio. Um choque dessa magnitude tem um impacto no crédito. Não é muito diferente dos bancos tradicionais”

Ele explicou que a economia brasileira já tinha preparado a empresa para momentos de crise.

“Começamos em 2013, e o único cenário que conhecemos é o Brasil em recessão”, disse o CEO do Nubank. “Para bem ou para mal, isso forçou na gente um viés bem conservador.”

Por outro lado, observou, a pandemia impulsionou a movimentação nas contas digitais, aumentando a liquidez. “Nós últimos 30, 45 dias tivemos os maiores fluxos de depósitos no Nubank na nossa história. Nossos 24 milhões de clientes estão depositando de maneira acelerada”, disse Vélez.

“Porque a pessoa lá do Nordeste, de 60 anos, que antes não queria abrir uma conta digital, tem que abrir uma conta digital. A pessoa lá na Faria Lima que queria ira lá falar com o gerente, tomar um cafezinho, já não existe essa possibilidade, acabou”, explicou.

“Nos últimos 30 dias, a gente teve crescimentos de 20%, 30%, (comparando) mês a mês, em abertura de contas de pessoas de 70, 75 anos, 80. Em 100% dos municípios brasileiros”, completou.

Segundo Vélez, o Nubank contratou 140 pessoas em 30 países do mundo nos últimos 30 dias.

“Hoje é uma dança entre entender o desafio na parte de crédito e aproveitar essa aceleração enorme que começa (em contas).”

O que veio para ficar

Duas tendências foram apontadas para o mundo pós-pandemia pelos empresários dos unicórnios brasileiros. A primeira delas é digitalização de processos, como pagamentos e atendimentos, explicou o moderador do debate André Street, presidente da Stone, empresa especializada em processamento de pagamentos.

“Criamos um sistema de atendimento médico de telemedicina em uma empresa”, disse. “Muitas coisas que eram feitas apenas de forma física estão se digitalizando”.

Isso vale também para o home-office, apontam os empresários. “Vai ficar. Não tem volta. Temos feito muita pesquisa; 65% reportam maior produtividade (trabalhando em casa)”, afirmou David Vélez, do Nubank.

Para Victor Lazarte, da Wildlife, o trabalho em casa tem rendido frutos, mas ainda mostra seus desafios. “Nosso engajamento está mais alto que antes da crise. Principalmente na área de softwares, todo mundo está mais produtivo”, disse. “Em outras áreas, como coordenação, está um pouco mais difícil”.

Conheça as empresas participantes

Painel discute os unicórnios brasileiros no Brazil at Silicon Valley — Foto: Reprodução/YouTube

Painel discute os unicórnios brasileiros no Brazil at Silicon Valley — Foto: Reprodução/YouTube

Participam do painel desta quarta:

Gympass

Fundada por Cesar Carvalho, a startup oferece assinaturas de academia. A empresa já está presente em 14 países, como Brasil, Estados Unidos, Espanha e Inglaterra. Ao todo, são 50 mil academias e estúdios parceiros.

Nubank

É uma empresa de serviços financeiros. A companhia foi fundada em 2013 por David Vélez com os sócios Edward Wible e Cristina Junqueira. O Nubank já tem 20 milhões de clientes, sendo 12 milhões de pessoas com conta digital.

iFood

É uma empresa de pedido e entrega de comidas e foi fundada em 2011. Tem mais de 100 mil restaurantes parceiros e realiza cerca de 26 milhões de pedidos mensais. Está presente no México e na Colômbia. A empresa tem participação da brasileira Movile e do grupo Just Eat.

Wildlife

Fundada em 2011, a empresa desenvolve games para mobile que podem ser jogados a qualquer momento. O modelo de negócios é baseado na venda de itens dentro dos jogos, que podem ser baixados de graça. Tem escritórios nos Estados Unidos, Brasil, Argentina e Irlanda e um portfólio de mais de 70 jogos.

Stone

Faz o processamento de pagamentos, incluindo máquinas para pontos de venda e serviços de meios de pagamentos. A empresa atende mais de 200 mil comerciantes online e em unidades físicas. Em 2018, a companhia abriu seu capital nos Estados Unidos. Na estreia, os papéis saltaram 30%.


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